
Aiki News #86 (1990)
Traduzido por André Fettermann de Andrade
fonte: http://migre.me/53T0i
Tenho me
referido em artigos recentes a nossas estimativas do grau de crescimento do
aikidô tanto no Japão quanto no exterior. Apesar de que nossas projeções
relativas ao número de praticantes são inferiores a diversas estimativas
oficiais, eu acredito que elas tampouco representem sólidas evidências da
penetração do aikidô nas maiores culturas mundiais. Com isso em mente, tenho
alguns pensamentos sobre a forma com que o aikidô é praticado em muitas escolas
hoje e suas implicações no desenvolvimento a longo prazo da arte.
O aikidô é
frequentemente referenciado como um esporte em conversas com não praticantes.
Quando isso acontece por vezes nós nos opomos ao termo “esporte” e esclarecemos
que o aikidô é na verdade uma “arte marcial”. Mas se olharmos cuidadosamente
iremos perceber que as pessoas normalmente usam o termo “esporte” num
significado mais livre da palavra, e na verdade o que querem realmente dizer é
alguma coisa relacionada a passatempo ou atividade de lazer ao invés de uma
atividade de competição. Se paramos e refletirmos por um instante, muitos do
que estão engajados na prática do aikidô hoje realmente a tratam como um
passatempo, hobby ou uma forma de exercício.
Como essa
atitude é expressada no treino? Uma área que imediatamente vem à mente é essa,
da forma como o aikidô é praticado em muitos dojos, o movimento do uke nada
mais é que uma caricatura de um ataque. Isso se deve à ênfase na execução da
técnica em oposição ao ensino no básico de como executar ataque sincero e
controlado. Ataques fracos e sem comprometimento são também a maior causa das
críticas sobre o aikidô por praticantes das artes marciais. Além de ser difícil
ou mesmo impossível efetuar uma técnica adequadamente contra um ataque sem
sinceridade, uma atitude de tamanho relaxamento contribui para o
desenvolvimento de hábitos de treinamento frívolos e lânguidos da parte tanto
do uke quanto do nage. Esses são, em troca, contra-produtivos ao
desenvolvimento da força muscular e das juntas e do condicionamento geral
necessário para a prática segura das poderosas técnicas do aikidô. Eu acredito
que a principal responsabilidade por essa forma casual da prática do aikidô é
dos instrutores que não foram capazes de captar a essência dos métodos e
intenções do fundador ao criar a arte.
É necessário que as técnicas do aikidô sejam eficazes?
Ás vezes
também é discutido que as técnicas de aikidô seriam de uso limitado em uma
situação real de luta, e mesmo que fossem, o quão eficazes seriam contra uma
arma letal como uma pistola. A premissa implícita é que não seja tão importante
assim que as técnicas que praticamos tenham uma aplicação marcial.
Consequentemente, por extensão, dizem os defensores desse ponto de vista, não
há nada de errado em praticar de uma forma relaxada e agradável.
A maior falha na minha opinião sobre essa forma de pensar é que isso
negligencia as consquências danosas de tais práticas em sucessivas gerações de
aikidocas. Se usarmos o aikido ensinado por Morihei Ueshiba em seguida ao fim
da guerra como uma régua pela qual possamos medir a arte atual, nós já podemos
concluir que muito menos técnicas são ensinadas hoje e que há pequena enfâse em
áreas fundamentais como atemi, uso de armas, e a prática de grupos inteiros
técnicas como koshiwaza e hanmi handachi os quais eram parte do
curriculum original da arte. Isso sem citar a da quase total ignorância da
fonte e conteúdo da mensagem espiritiual do fundador. Se isso continuar por
muito tempo, temo que no futuro o que seja passado com o nome de “aikidô” em
muitos dojos se torne irreconhecível como tal.
O aikidô tem
uma rica herança como uma das mais importantes e dinâmicas expressões da longa
tradição japonesa de artes marciais. Morihei Ueshiba, o originador do aikidô,
injetou nas complexas e sofisticadas técnicas que aprendeu na sua juventude uma
visão humanística das artes marciais como instrumentos de resolução pacífica
dos conflitos. É essa mistura única de forma, ética e utilidade a responsável
pelo impacto do aikidô nas gerações modernas. De uma certa forma, essa visão do
fundador talvez tenha sido revolucionário demais. Parece ter sido demasiado
esperar que o mundo fizesse o pulo conceitual considerável requerido para
transformar as ferramentas da guerra em instrumentos da paz. Visto sob essa
luz, o estado atual do aikidô como uma forma leve de exercício a ser buscado em
um ambiente amistoso e relaxado nada mais é que um sinal dos tempos em que
vivemos onde o que é mais fácil e divertido atrai mais a atenção do que as
atividades que rendem recompensas somente em conseqüência de um esforço
aplicado em prolongados períodos.
--------
conheça a página do Aikido ITN no Facebook, clique AQUI
siga o Aikido ITN no twitter, clique AQUI
Nenhum comentário:
Postar um comentário