Por Tiago Tauhata
Psicólogo, Faixa Preta 1º de Aikido, Academia CLAM - Goiânia
17/02/2011
Confúcio |
Preciso, todavia, explicar-me melhor. Como Confúcio, digo apenas que não trago nada de novo. Apenas repito, repasso, transmito um conhecimento milenar – milenar no meu caso, no de Confúcio seria apenas secular. A escolha do adjetivo ‘milenar’ é isenta de maior valorização do que aquela que é dada pelo próprio tempo; outros poderão preferir arcaica, retrógrada, antiquada ou simplesmente “fora de moda”, de acordo com os critérios que melhor convier ao seu relativismo moral.
Assim, nada
aqui é original, pois nada mais são do que ecos de ensinamentos que se perderam
ou se deturparam ao longo do tempo. Da mesma maneira, o que há neles de valioso
e relevante se deve exclusivamente aos seus autores. Em contrapartida, o que
neles houver de insólito ou contraditório ou mesmo de deturpado se deve às minhas
próprias limitações – que são muitas, lhes garanto.
O´Sensei Morihei Ueshiba |
Para o homem religioso há sempre Deus, ou
deuses, ou a grande ordem harmônica de tudo, todas expressas em diversas
hierofanias.
Para o homem
ético, a ética e, portanto, o Bem, conceito tomado de maneira absoluta em
algumas épocas e relativa em
outras. Em ambos os casos, cada uma delas com seus serviços e
desserviços à própria causa.
Para o homem
de apurado senso estético, a beleza, ou de forma mais acurada, o Belo,
apreendido mediante uma sutil habilidade de compreensão das formas estáticas ou
dinâmicas, mas sempre extáticas. Para o homem de conhecimento, a Verdade.
Talvez, entre todas as anteriores, a Verdade seja
a que menos se adéqua à sensibilidade do homem contemporâneo, relativista, ateu
e hedonista.
Relativista –
é... mais ou menos, às vezes sim, às vezes não... depende né?
E ateu – ai
meu Deus! – quando conveniente.
Hedonista, ah,
hedonista sempre!
Contudo,
espero que não e, como Confúcio, faço uma aposta no homem e nado contra a maré
– melhor enxurrada, não estou no litoral. Ainda que esteja enganado nesta
aposta, um outro pensamento confuciano vem ao meu auxílio, o de que se deve
fazer o que se considera correto, ainda que seja tempo perdido. Perder tempo é
inevitável, perder com algo que valha a pena é que são outros quinhentos –
medir o valor do tempo pelo resultado, dependerá de que resultados você espera.
Pense agora e decida se perde um pouco mais do seu tempo neste texto ou se vai
pra Disneyland – um é simples, despretensioso e barato (gratuito), o outro é
complexo, pretensioso e caro; o primeiro pode ser a maior furada – avisei desde
o início –, o segundo, de acordo com a propaganda, é diversão garantida. Você,
leitor, – se tenho ainda algum nesta altura deste circunlóquio – é livre para
escolher, mas saiba desde já que não estará livre das conseqüências de sua
escolha. Vai, eu espero... pode escolher.
Os outros 88%,
a esta hora, já me xingaram e daqui a pouco me esquecerão.
Não culpo
ninguém em particular, mas a todos culpo um pouquinho. Porque o estado de
coisas chegou até este ponto por que fomos seduzidos. Desistimos ao sermos
convencidos de que esta é uma era maravilhosa porque a tecnologia é
maravilhosa, a facilidade é maravilhosa, a vida, então, é MARA, mas como diz a
música ‘Contabilidade’, inspirada nas tirinhas da Mafalda, e apresentada no
Festival Cultura de Música Brasileira de poucos anos atrás, vivemos em uma
época em que “felicidade se conta com conta-gotas”, “igualdade se conta no
contra cheque” e “fraternidade se conta em genocídios”. É mais fácil consumir
que assumir, mais fácil destruir que criar.
Então como o
burro dos desenhos animados que persegue uma cenoura em uma vara de pescar e
arrasta uma carroça com um cara apressado a chicotear o seu lombo, fugimos da
dor e buscamos o prazer. E somos livres como são os animais de carroça.
Difícil, sim. Quase impossível atribuir
sentido quando tudo parece despropositado, quando o caos em seu nome clean de
acaso vai soterrando as possibilidades de nos tornarmos humanos.
Quando a cada
verdade exclusiva – são sempre exclusivas, já repararam? – exigem que
abandonemos conhecimentos advindos de séculos, se não milênios de reflexão,
pela última novidade lógica, tecnológica, científica e pedagógica – ou os avanços
da tecnologia científico-pedagógica (bomba de gás, spray de pimenta, tasers,
balas de borracha).
Como então
viveram as sociedades antes desta incrível descoberta do século XXI? Como
viviam as pessoas no século XX, XIX, XVIII... I?
Como bilhões
de pessoas em milhares de anos sobreviveram, prosperaram, criaram?
Sorte cara,
puro acaso...
Difícil, sim.
Quase impossível atribuir sentido quando o Bem, o Belo e a Verdade não são mais
ideais interdependentes como na cultura clássica, quando na realidade são,
atualmente, contraditórios.
Se é bonito,
tem que ser ruim.
Se é
verdadeiro, tem que ser feio.
Se é bom, tem
que ser falso.
Nesse caso,
não seja um feio mentiroso e malvado, porque nesse caso também teríamos uma
contradição. Se você acha que pode ser os três, sem contradição, como uma
necessidade intrínseca destes ideais, então você nasceu alguns milênios
atrasado. Se fosse outro o caso, o de ser uma pessoa à frente de seu tempo
poderia ficar tranqüilo, pois uma hora você seria alcançado por ele.
Moriteru Ueshiba |
Agora o tempo
é linear, tem começo meio e fim, cada coisa no seu lugar. A não ser que um
físico venha com cálculos que compreendemos tão pouco ou muito menos que esses
rituais nos dizer que o tempo é circular de novo, aí a coisa muda, é outra
coisa, lavou tá novo.
Difícil, sim.
Quase
impossível atribuir, ou encontrar o sentido, quando o ser humano, seus valores,
suas ações, seus conceitos e sentimentos se acham tão estilhaçados e disputando
por um lugar no vazio do espaço – espaço geométrico, espaço espacial tipo Star
Wars, não igual o Projeto Saci I, saca bicho?
Difícil? Sim.
Quase
impossível quando esperamos que a vida nos responda qual seu sentido, ao invés
de perceber que se trata justamente do contrário (trilha sonora de
reviravolta); que é a própria vida que nos faz esta pergunta: qual é o sentido
de sua vida? Esse sentido te
encurrala, de diferentes maneiras em diferentes momentos da vida, ele não é
imutável, não tem como ser, e está aguardando pela resposta “pobre ou terrível
que lhe deres: Trouxeste a chave?”
Sei que você,
único leitor, – sou otimista demais! Sou brasileiro, não desisto nunca! Vou
ganhar esta aposta! – está perguntando: E o que diabos tem haver Aikido e
Educação nessa margaça? A resposta é simples e será dada no próximo capítulo.
Brincadeira! A
resposta será dada agora mesmo, mas é simples.
O conhecimento
nunca poderá ser completado, e por isso é tão valioso que continuemos sua
expansão com a humildade que todo trabalho colossal exige – visto que nunca
veremos sua conclusão.
A escolha pela
educação é então óbvia, a educação que se aprende nas relações com os outros e
tudo que isto implica no campo não só do pensamento, puramente intelectual, mas
na esfera afetiva inclusive.
Vejo então a
educação como algo indispensável para ser humano. Se alguns filósofos estão
certos, não nascemos humanos, tornamo-nos. Tornar-se humano é mais do que fazer
parte da espécie dos “animais humanos”, é mais do que dedicar-se à
sobrevivência, mais do que satisfazer todas as suas pseudo-necessidades. É
participar deste mundo eternamente mutável da cultura por meio do aprendizado
constante e interminável em toda a sua riqueza de possibilidade. Adquirir
amadurecimento intelectual, afetivo, físico, espiritual. Educar-se em todos os
aspectos em uma compreensão inclusiva, e não exclusiva, capaz de abarcar as
diferenças, respeitando-as, e isto não só conceitualmente, mas fisicamente.
Aikido começa
aqui.
Como uma das
poucas obras da modernidade que soube trazer consigo o que havia de melhor nos
valores do passado, harmonizando com singular eficácia uma arte bela, boa e
verdadeira com um ideal de uma vida mais harmoniosa, uma vida de disputa, não
com o outro, mas consigo próprio. Uma disputa contra tudo aquilo que nos deixa
letárgicos, acomodados, agressivos. Força não é o mesmo que agressividade. Isto
o aikido ensina.
Disputar com
os outros, não te torna melhor do que os outros – às vezes te torna até pior do
que já era. Isto o aikido ensina.
Ter paciência
consigo e com o outro. Isto o aikido ensina.
Aprender pela
relação. Isto o aikido ensina.
Aprender pela
colaboração e às vezes até pela resistência. Isto o aikido ensina. Esforçar-se
para ser mais humano. Isto o aikido ensina.
Mas é difícil
o aikido e é difícil aprender contra nós próprios, contra nosso tempo e os
vícios de uma era. Aikido termina aqui.
E aqui começa você. Trata-se de sua escolha, de sua
decisão em aprender. Quanto
a aprender, isto, ainda bem, não terá fim se não colocarmos um ponto final.
Escolha...
Parabéns Tiagão! Excelente texto, tenho certeza que não sou o "único leitor" (hehe), creio que muitos quiseram saber sobre o desenrolar de todo o texto. Mais uma vez, parabéns.
ResponderExcluirOh!
ResponderExcluirGrande, grande!
Muito bom texto, Brandão!
na verdade acho que foi uma estratégia!
ResponderExcluirele fala um monte de coisas e só no finalzinho fala sobre aikido e educação! Puta falta de sacanagem...hehehehe
mas o texto é bom mesmo!!!
abraços a todos