Tradução: Carlos Manosso Junior (Aizen Dojo
– Brasília/DF)
Fonte: Aikido Journal - http://migre.me/4yCCC
Fonte: Aikido Journal - http://migre.me/4yCCC
Eu gostaria de dedicar alguns parágrafos na grande influência do
segundo Doshu Kisshomaru Ueshiba (1921-1999) sobre o aikido tal como o
conhecemos atualmente.
Fui motivado a escrever neste momento porque tenho notado um
enorme desconhecimento sobre as muitas contribuições de Kisshomaru, em razão do
foco dado sobre os pontos de vista e ações do Doshu atual, Moriteru Ueshiba
Sensei, a frente da organização Aikikai. Este sentimento de mudança é completamente compreendido como um
fenômeno histórico e dado o tempo passado desde a morte de Kisshomaru, há 12
anos.
Por que Kisshomaru é discutivelmente[1]
a figura mais importante da história do aikido, além de seu famoso pai Morihei
Ueshiba, o fundador? Deixe-me discorrer poucas palavras dos seus pensamentos
sobre o aikido moderno dentro do contexto do sistema Aikikai, a entidade
politicamente dominante da arte.
Quando conheci Kisshomaru Sensei, em 1963, ao sul da Califórnia
durante sua primeira visita internacional, ele aparentou ser um pouco tímido,
um homem humilde e gentil, contendo um conhecimento e uma habilidade incrível
na arte. Sua maneira de ensinar com voz serena pareciam próprias para fazer-nos aprender o básico da
arte como o Aikikai Hombu Dojo ensinava durante aquele breve período de tempo.
Kisshomaru foi muito ofuscado pelo carismático Koichi Tohei, seu
cunhado, que já ministrava vários seminários no exterior, especialmente no
Hawaii, e estava iniciando um pequeno envolvimento dentro dos Estados Unidos.
Kisshomaru, ao contrário, era visto como o filho do fundador e responsável pelo
Aikikai Hombu Dojo, estando mais envolvido nas tarefas administrativas. Seu
papel como instrutor da Aikikai era visto como uma posição dada a ele como sendo
o filho de Morihei, mas ele foi, sem sombras de dúvida, o melhor exemplo de
técnica ou professor de habilidade extraordinária no grupo de instrutores junto
com Tohei.
Quando Koichi Tohei foi resignado da Aikikai, em maio de 1974, sua
ausência deixou um enorme espaço que deveria ser rapidamente preenchido pela
Aikikai para preservar sua proeminência como principal organização política no
mundo. Foi neste momento que Kisshomaru decidiu assumir a liderança sobre todos
os assuntos relacionados ao aikido, e começou a reformular a Aikikai de acordo
com seu ponto de vista, enquanto saia de cena aquele manto pesado de Koichi Tohei.
O novo ativismo de Kisshomaru tomou várias formas. Ele trabalhou
sistematicamente para padronizar o currículo do aikido, e seu esforço pode ser
visto na nova geração de instrutores, jovens com 20 e 30 anos, cujas técnicas
começaram a ficar bem parecidas com a de Kisshomaru. Esta percepção é bastante
notada no processo de treinamento do seu segundo filho, Moriteru, o seu
sucessor como Doshu. As técnicas de Moriteru tornaram-se quase idênticas as do
seu pai, e sua forma pedagógica de ensinar muito semelhante. Além de servir
como modelo para formação dos jovens instrutores da Aikikai, a educação de
Moriteru garantiu a propagação do legado das técnicas e formas de ensino de
Kisshomaru para o futuro.
No segundo semestre dos anos 70 e 80 também vimos a publicação de
vários livros técnicos de autoria de Kisshomaru que mostrou ao mundo um
currículo formal que serviria de forma básica para o ensino do aikido dentro da
rede Aikikai. Seu filho Moriteru também começou a aparecer nos livros,
inicialmente como “coadjuvante”, e mais tarde como “ator principal”. Esses
livros tornaram-se um canal muito forte para popularização de uma forma padrão
de ensino entre os instrutores e federações dentro do sistema Aikikai.
Seguindo o seu propósito, Kisshomaru trabalhou na criação de uma
versão oficial sobre a história do aikido, começando com a biografia sobre seu
pai, entitulada “ Morihei Ueshiba, o Fundador do Aikido”, em 1977. Com o
intuito de prover uma boa quantidade de materiais até então não publicados
sobre a vida de seu pai e os primórdios do aikido, o trabalho de Kisshomaru
deixou claro o posicionamento da Aikikai através de um número de publicações
históricas, tais como:
- A influência de Sokaku Takeda e o Daito-ryu Aikijujutsu na formação do aikido;
- A versão centrista de Morihei Ueshiba sobre seu envolvimento com a religião Omoto;
- Uma minimização da extensa conexão, nos primórdios do aikido, para com os políticos da direita e instituições e pessoas militares;
- Os papéis obscuros que tiveram o sobrinho de Morihei, Yoichiro Inoue, Kenji Tomiki, e Koichi Tohei dentro da evolução da arte.
Kisshomaru apropriou com grande habilidade a imagem do fundador
disseminada pela Aikikai a serviço dos objetivos e visões da organização para a
grande comunidade do aikido. A imagem de Morihei serviu como prova da
legitimidade inquestionável da autoridade da Aikikai, enquanto mantinha aquela
impressão não muito clara que impedia análises mais detalhadas ou
interpretações alternativas. Pouco a pouco, uma forma mais “politicamente
correta” tomou conta do sistema Aikikai, o que desencorajou estudos e
publicações históricas independentes que acabavam destoantes do escopo dos
limites aceitáveis do contexto da vida e da arte de Morihei Ueshiba.
Desde o final dos anos 70 até 1998, eu entrevistei Kisshomaru
Sensei para publicação de artigos por cerca de 12 vezes. Eu estava apto para
testemunhar em primeira mão a evolução do pensamento do Doshu sobre vários
assuntos históricos, e identificar áreas sensíveis que, por razões pessoais ou
organizacionais, ele preferia evitar ou desconversar.
O comportamento suave de Kisshomaru escondia seu pensamento
politicamente sensato que ele usou em sua boa posição para atingir os objetivos organizacionais da Aikikai.
Durante a última década de sua vida, Kisshomaru criou condições
onde os políticos rebeldes que ficaram ao lado de Koichi Tohei na separação da
Aikikai, pudessem retornar às graças da organização mãe. Sua atitude de perdão
acima daquela “ferida profunda” que
levou tempo para cicatrizar sem dúvidas aumentaria seu crédito nas análises e
escritos sobre o futuro aikido. Kisshomaru também teve um senso crítico para
aceitar inúmeras federações independentes e sem renome para dentro da Aikikai,
nas ocasiões onde o tamanho e afinidade atingiam os critérios necessários.
Agora um elegante,
avô adorável, ele exerceu uma autoridade inquestionável sobre todas as coisas
relacionadas ao gerenciamento da arte dentro do domínio da Aikikai. O “selo” Kisshomaru tornou-se firmemente
impresso sobre o aikido, e seu futuro garantiu a influência necessária por pelo
menos duas próximas gerações através de seu filho Moriteru e do seu neto
Mitsuteru.
[1]
Apesar da indiscutível contribuição do segundo Doshu, Kishomaru Ueshiba, para o
desenvolvimento no Aikido e sua disseminação pelo mundo, o texto original do
autor utiliza o termo "arguably" e não “unarguably” ao descrever essa
relação, tal como: "Why is
Kisshomaru arguably the most important figure in aikido history, apart from his
famous father Morihei Ueshiba, the art’s founder?...”
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